sexta-feira, 14 de outubro de 2016

A CASA DAS HISTÓRIAS PAULA REGO






Entrada e saída de uma casa que conta histórias... Entrada e saída para a leitura da alma de seres que fizeram parte da nossa História e das histórias do nosso imaginário... Entrada e saída de uma casa onde se torna difícil ler as histórias que lá são contadas, a menos que nós conheçamos já a história dessas histórias ou a história da nossa própria História.

Para quem não entenda como eu, fica a força do traço, a eficácia no manuseamento dos materiais, do pastel, do óleo, da tinta nanquim... Sobretudo do pastel!... Mas fica também a força do feio, do grutesco, do violento e do simbólico que procuramos ler em cada obra da pintora que reproduz à sua maneira obras de escritores, como é o caso das novas séries baseadas nas obras de Eça de Queirós (1845-1900)  __   O Primo Basílio (de 1878) e A Relíquia (de 1887).

Os dramas morais e sociais e as relações humanas, são vistas de uma forma crua muito própria de Paula Rego, muitas vezes denunciando situações extremas como a mutilação sexual feminina e a sua aceitação por determinados grupos das sociedades humanas. Os títulos dos seus trabalhos são muitas vezes um complemento da crítica mordaz implícita na representação feita pela imagem. 

Os quadros de Paula Rego são histórias por si só. Histórias que são contadas ou numa profusão de imagens que se encontram numa amalgama aparentemente sem nexo ou então por espaços vazios e uma representação parca de elementos. Torna-se um exercício curioso e engraçado tentar ir ao encontro de uma possível leitura dos episódios retratados nas obras de Paula Rego. Procurar em cada elemento o seu possível simbolismo.

Para minha surpresa, não há uma exposição fixa de trabalhos da pintora. Os temas vão variando ao longo do tempo e os trabalhos expostos também. A pintora, aos 81 anos de idade, continua a trabalhar nas suas obras de grandes dimensões. E são algumas das suas obras recentes que estão patentes ao público como é o caso do quadro "A Ericeira" - acabado há 2 anos e que representa a fuga do rei D. Manuel quando da implantação da República.


   

"Ericeira" - a fuga do rei D. Manuel II


"O Anjo"


"Pêga"

 
"A Morte do Rei"



"Escondido entre mulheres" (Crime do Padre Amaro)



Pode gostar-se ou não do trabalho desta pintora, mas é inegável, a sua infindável capacidade de imaginação e criatividade e a sua capacidade de em poucas linhas ou manchas de lápis, pastel, tinta ou colagens conseguir representar sentimentos tão humanos e, por vezes, tão contraditórios.

Como contraditórios são os meus sentimentos em relação ao trabalho desta pintora tão diferente...




(Outº / 2016)







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